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domingo, 11 de outubro de 2015

De volta a 1835...

Era um dia frio e com muita chuva, a cidade estava em pé de guerra, era um corre ,corre, mortes e muitas pessoas chorando, e me  perdi no meio daquela gente e me coloquei frente a frente de alguém muito poderoso ,para defender alguém de morrer ,talvez alguém da minha família não lembro bem,fui retirada daquele local e colocada em um quarto escuro,eu chorava e gritava mas ninguém parecia me ouvir, ali de joelhos eu implorava para que nada de ruim me acontecesse e logo pela manhã ,vi que foi ordem do meu pai o mesmo me deu muitos gritos, fui para a minha prisão me refiro assim ao meu quarto, tinha cortinas embranquecidas e amareladas, janelas e muitas roupas eu tinha, mas eu gostava mesmo de um colar lindo que eu tinha cheio de pedrinhas brilhantes, a minha borboleta era o meu amor maior, quando estava só pulava, brincava e ria a toa, lembro de uma amiga que sempre vivia a me procurar, alta e cabelos negros,branca e tinha um jeito arrogante de falar, ela reclamava comigo por achar que eu defendia demais os escravos daquela época, a mesma falava sempre que achava que eu estava apaixonada por um escravo livre,eu não gostava daquela companhia, mas eu tinha um amigo que me procurava meu primo e meu pai me deixava conversar com ele, as vezes ele brincava e mandava meu primo ter cuidado comigo,pois  disse que eu queria transformar o mundo, passeando  corri ao vê uma pombinha cinza caída ao chão, o mesmo me ajudou a cuidar dela, conversávamos horas a fio, nem víamos o tempo passar, ele sabia do meu amor secreto, perguntou por ele e falei que tinha viajado a negócios, meu coração ficava cheio de tristeza quando o mesmo não estava naquele lugar, a solidão invadia o meu coração, meu primo foi embora e na janela eu ficava, estava chovendo muito,trovões,raios,como eu tinha medo de tudo aquilo, pois vivia muito só, já não tinha minha irmã, minha mãe, o primo demorava a aparecer ,a bá  era a minha única amiga de verdade, a cada dia que passava ficava admirada com os escravos lia .Como ninguém, e os  importantes tinham inveja deles por não saberem lê, os dias passaram e a saudade almentava,achava que meu amor nunca mas fosse voltar, quando ia ao rio ficava horas ali e nada dele aparecer, as lágrimas eram constantes nos meus olhos, não comia e comecei a emagrecer cada vez mais, tinha pesadelos constantes e medo que algo de ruim estivesse acontecendo com meu amor do passado, aqui no meu futuro essas lembranças são fortes, e sinto numa ponte dividida entre dois mundos e sem saber qual deles é verdadeiro. Estou em três  de dezembro de 1834,os poderosos estavam cada vez mais matando os escravos e isso tudo me preoculpava,poderia acontecer uma grande revolta, pois ninguém merecia sofrer como aquele povo sofria não, muitos se aproveitavam por eles saberem lê para ganhar dinheiro em cima dos trabalhos dos próprios escravos, que absurdo eu não concordava com isso não, lembro de alguém falando na minha casa sobre os nagôs e ussás, os chefes de policia batia de frente com esse povo diariamente fazendo todos sofrerem, muitas revoltas aconteceram naquela época fora a grande ,ouvi alguém conversando com meu pai que haveria uma festa no dia 25 de Janeiro de 1835 e que estávamos convidados numa igreja católica, não lembro o nome ainda, sabe é muito difícil conviver aqui no meu futuro com tantas lembranças e sem ter alguém que me ajude a encontrar as respostas que busco, vocês não sabem o que é viver aqui e pensando naquela época,eu sentia que algo estava para acontecer não queria sair naquela noite não, mas uma vez lembro que fomos e muitas coisas aconteceram lá, duas  execravas traíram os africanos, entregaram tudo a policia e o confronto foi grande muitas mortes, fiquei muito abalada com tudo os dias passaram  já não queria sair de casa, ficava sentada naquele banquinho perto da fazenda, banco de madeira, olhava as folhas sendo varridas pelo vento e lembrando que no dia do acontecimento, você estava lá com aquela mulher, mesmo tendo me explicado tudo eu estava triste, tirei meu chapei da cabeça e olhava para o tempo e pensava se algum dia estaríamos juntos para sempre ou separados, passeava vendo se aparecias mas estavas tão estranho não me procurava mais, isso fazia com que meu coração se sufocasse de tanta dor e chorava muito, voltando para casa meu pai foi logo falando:
Coração de amor
__  Escute aqui mocinha se eu sonhar que anda se encontrando com aquele maldito eu acabo com ele de vez, prefiro te vê morta que casada com meu inimigo,eu já falei com ele e espero que ele fique bem longe de todos aqui  odeio aquele louco maldito.
__ Papai, o que ele lhe fez para odiá-lo tanto assim?
__ Vá já para seu quarto, vá agora antes que eu faça uma loucura com você.
__ Vamos minha criança, vamos logo não pode responder a seu pai.
__ Muito bem bá leve-a daqui logo.
__ Se a mamãe estivesse aqui o senhor não faria isso.
Esse ficou furioso e quase me bate, sai dali chorando e fui para o meu quarto.
__ Bá porque ele é tão mau assim?
__ Acalme-se menina vou fazer um xá  para você dormir, espera eu volto logo.
__ O que seria de mim sem a minha doce bá.
Ela sorriu e antes de sair do meu quarto falou:
__ O que seria de mim sem você criança.
__ Bá você acha que ele não vai mais aparecer não?
__ Vai sim, mas agora deixa eu ir preparar o seu xá que o Damião está no engelho, fazendo melaço e sei que gostas muito, vou guardar para comer amanhã, espera eu volto logo.
Eu sorria como criança, adorava melaço de cana de açúcar e as raspinhas comia e sempre guardava um pouquinho para meu doce amor proibido, fui à janela mas só ventava muito e nada de te vê, vi meu pai saindo e já era muito tarde, desci as escadas e bá foi logo falando:
__ O que você está fazendo fora do quarto?
__ Eu vi meu pai saindo, desci para tomar o xá aqui e quem sabe ir lá fora.
__ Nada disso  tome seu xá e vá dormir.
Eu tomei o xá e fui dormir, logo cedo desci para tomar café e depois que todos saíram, chamei meu cachorrinho, brincávamos muito, senti vontade de ir ao rio, quando lá cheguei vi tantas borboletas, lembrei logo do meu rei sol era assim que eu o chamava,malhado estava brincando muito mas saiu correndo e me deixou só ali, comecei a olhar para a água e ouvi uma voz:
__ A cada dia que passa está mais linda.
Levantei sorrindo demais e o abracei sem medo, começamos a nos beijar,eu não acreditava que estavas ali na minha frente, foi quando então me explicou tudo e falou que não ia me deixar nunca.
__ Promete que nunca vai me deixar mesmo?
__ Prometo, mas seu pai tem ódio do meu povo inclusive de mim, não vai ser fácil está pronta para enfrentar tudo e ir embora comigo?
__ Mas é claro que estou, estou sim meu amor.
Comecei a contar tudo que tinha acontecido durante a sua viagem, sentia as folhas, o vento, mas fui voltando para o meu futuro ou o meu passado eu não sei, eu quero muito as respostas saber quem eu fui realmente. Pois é como se eu não tivesse uma história, fico em busca do meu eu,cresci diferente das pessoas ao meu redor, mas sei que um dia voltarei ao rio com você.



Kátia Cilene

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